ANAIS DO 2º SITE

ISSN 2448-3966
(em edição🔄)


Apresentação

No ano 2000 uma parceria entre a Escola Sindical 7 de Outubro e um grupo de professores do Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação/NETE, da Faculdade de Educação/FaE/UFMG se estabeleceu e deu inicio ao trabalho de uma equipe que se organizou em torno de ações de ensino, pesquisa e extensão. Elas se voltaram para o atendimento de uma demanda oriunda de segmentos variados de trabalhadores que chegava cada vez mais clara e insistente: compreender as complexas transformações do mundo do trabalho e da educação, de modo a alimentar propostas de intervenção. A partir daí, não foi difícil identificar novos parceiros, solidários no mesmo interesse. O Departamento de Ergologia da Universidade de Provence, em Aix-en-Provence, na França e o Departamento de Engenharia de Produção da UFMG se juntaram ao grupo inicial. Pesquisas, disciplinas, oficinas, reuniões variadas passaram a se realizar coletivamente e envolveram professores e alunos de pós-graduação da FaE e da Engenharia de Produção, além de educadores da Escola Sindical. 
Já na década de 1980, uma constelação de problemas comuns aproximara educadores/as e trabalhadores/as, sindicalistas e universitários em torno do tema dos saberes no trabalho e do mesmo desafio: construir novas propostas educacionais que supunham o reconhecimento e o diálogo entre saberes de natureza diferente, além da devida legitimação de cada um deles. A parceria iniciada em 2000 entre o NETE/FaE, a Escola Sindical, o Departamento de Engenharia de Produção e o Departamento de Ergologia retomou esse desafio e se propôs enfrentá-lo. A este desafio se somou a bandeira da inclusão dos segmentos sociais que vinham sendo preteridos no ensino superior brasileiro, principalmente na universidade pública, que deveria se comprometer sobremaneira com a democratização do acesso e permanência deste contingente.
1º Seminário Internacional Trabalho e Educação: processos de produção e legitimação de saberes - 1º SITE - realizado em 2003 foi o resultado do trabalho coletivo dessa equipe. O evento objetivou discutir a formação de trabalhadores/as e pesquisadores/as em diversos campos do conhecimento. Para tal, elegeu como problema central o estatuto epistemológico, político, cultural e subjetivo dos saberes produzidos e mobilizados pelos trabalhadores em situações de trabalho, bem como, os processos de construção e legitimação desses saberes. 
A realização do seminário ensejou o convite à participação do Centro de Pesquisas Savoirs et rapport au savoir, da Universidade de Paris X, França, por intermédio dos professores Jacky Beillerot, Nicole Mosconi e Françoise Hatchuel. A partir de então, esta última integra aquela equipe original. 
O 1º SITE privilegiou a socialização da produção de conhecimento em torno dos processos de produção e legitimação dos saberes enfatizando seu estatuto epistemológico, político, cultural e subjetivo. Isto se deu em diferentes óticas, tais como o gênero, a raça/etnia, o fenômeno geracional, o trabalho formal e informal, a cultura, diferentes níveis de ensino, por meio de experiências e pesquisas relatadas por representantes de múltiplas instituições e grupos sociais. O evento se organizou em torno de três eixos: produção de saber em situações de trabalho, processos de legitimação de saberes e relação do sujeito com o saber.
Desse primeiro seminário resultou a publicação, em 2003, do dossiê “Processos de produção e legitimação de saberes”, volume 12, na Revista Trabalho e Educação do NETE.
Após o evento, a equipe deu continuidade às pesquisas e discussões em torno do tema. Várias dissertações e teses foram defendidas no Programa de Pós-graduação da FaE e da Engenharia de Produção, bem como no Departamento de Ergologia e na Universidade de Paris X. 
No interior da discussão realizada pela equipe, buscou-se aprofundar o conhecimento acerca da relação do sujeito com o saber, inicialmente incorporando as contribuições de Bernard Charlot. Um grupo deu atenção especial à interface com os estudos da psicanálise e estreitou as relações com a professora Françoise Hatchuel. Formado pela professora Eloisa Helena Santos e suas então doutorandas Margareth Diniz, Lucia Helena Garcia Bernardes e Shirley Aparecida Miranda, este grupo iniciou um ciclo de seminários e mesas redondas intituladas “Diálogos erráticos”. Os “diálogos” buscaram problematizar as diferenças semânticas e epistemológicas acerca das diversas acepções dos termos sujeito e saber e suas implicações, bem como da relação do sujeito com o saber.
A necessidade de trabalhar a noção de relação com o saber e suas implicações no processo de produção e legitimação de saberes, demanda recorrente nas discussões em torno dos saberes nas situações de trabalho, levou este grupo a aprofundar o diálogo com referenciais teóricos diferentes, com destaque para a psicanálise. O grupo passou a investigar o que denominou “clínica da relação com o saber”, realizando discussões de casos que envolviam a relação do sujeito com o saber na perspectiva clínica. Além deste grupo interessado na dimensão clínica, a equipe inicial manteve a interlocução com as produções dos/as antigos orientandos/as da professora Eloísa em torno dos saberes no/do trabalho, destacando-se as pesquisas de mestrado de Paulo Henrique Queiroz Nogueira, Mariana Veríssimo, Deise de Souza Dias, Luiz Henrique Vieira, Kátia Rochael e Geraldo Márcio dos Santos. Além destas, as dissertações de Camélia Vaz Penna e Luciana Ferreira Tavares Ramos, orientadas pela professora no Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, do Centro Universitário UNA, a partir de 2008, se debruçaram sobre a relação do sujeito com o saber.
 Paralelamente, as atividades coletivas centradas em torno da abordagem ergológica prosseguiram, de tal forma que ergologia e psicanálise passaram a dialogar para responder às questões em pauta quando se trata de focalizar os sujeitos e os saberes nas situações de trabalho.
Desde 2003 mantendo interlocução permanente com a professora Françoise Hatchuel, em 2010, 2011 e 2012 foram realizadas reuniões buscando construir a proposta do segundo seminário internacional. Previsto para ser realizado em 2014, o evento se voltará para a atividade do pesquisador/a, focalizando a dimensão enigmática presente nesta atividade, tema transversal ao trabalho da equipe toda. O grupo que se dedicou mais especialmente ao estudo e à experiência da “clínica da relação como saber” está hoje inserido em instituições de ensino superior e programas de pós-graduação como pesquisadoras/es: Shirley Miranda na UFMG, Margareth Diniz na UFOP, Lúcia Bernardes na UNIFENAS, José Eustáquio Brito na UEMG e Mariana Veríssimo na PUCMinas. É ele o propositor do evento em tela. A experiência de cada um/a como pesquisador/a e como formador/a de novo/as pesquisadores/as, que sempre foi objeto de reflexão do grupo, bem como a demanda advinda da relação estabelecida com outros pesquisadores, foi o mote para a organização do segundo seminário “O enigmático na atividade do pesquisador: relação objetividade e subjetividade. 

 SUMARIO

RELAÇÕES QUE ATRAVESSAM O TRABALHO DE PESQUISA: REFLEXÕES A PARTIR DE UM ESTUDO SOBRE MULHERES PARDAS PROVEDORAS E O PROCESSO DE EDUCAÇÃO DE SEUS FILHOS E FILHAS
Tânia Aretuza Ambrizi Gebara
OS DESAFIOS DOS DESAFIOS DO CONHECIMENTO E DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO: A ABERTURA DE CAMINHOS PARA CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA ENTRE O QUANTI E O QUALI
 Anselmo Paulo Pires



RELAÇÃO COM O SABER NO PROCESSO DE PESQUISA E DE ORIENTAÇÃO
Ana Paula Ribeiro Rodrigues
 Eloisa Helena Santos
UMA TRAVESSIA PELO RAP: DISCUSSÕES SOBRE EPISTEMOLOGIA CLINICA
Ana de Santa Cecília Massa
O USO DE SI NA ATIVIDADE DE PESQUISA
Admardo Bonifácio Gomes Júnior
ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS E INTERDISCIPLINARIDADES NA PESQUISA HISTORIOGRÁFICA: O CASO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE FELIPE EM BOM JESUS DO AMPARO – MINAS GERAIS
Ângela Aparecida Ferreira
L’IMPRESSION DE FAMILIARITÉ ROMPUE EN ANTHROPOLOGIE : DE L’INITIATION AU SAVOIR L’EXEMPLE D’UN ATELIER DE THÉÂTRE EN SEINE SAINT –DENIS
Eric Chauvier
TRABALHO DOCENTE: PRODUÇÃO DE SABERES EM ATIVIDADE
Deise de Souza Dias
DE LA SUBJECTIVITÉ À L’OBJECTIVITÉ, UN PASSAGE NÉCESSAIRE DANS L’ACTIVITÉ DU CHERCHEUR EN CLINIQUE DE L’INTERVENTION
Danielle Hans
O SUJEITO EM PESQUISA: MÉTODO CLÍNICO E INTERVENÇÃO
Claudia Itaborahy Ferraz
Margareth Diniz
OS EMBARAÇOS DO PROCESSO DE PESQUISA E A RELAÇÃO ORIENTADORA/ORIENTANDA
Cátia Regina Machado Pontes
Eloisa Helena Santos
NO MEIO DO CAMINHO TEM UM SUJEITO: OS IMPASSES EM PESQUISAS SOBRE O ENCONTRO- CONFRONTO SUJEITO-LÍNGUA
Carla Nunes Vieira Tavares
A HISTÓRIA É VERDADEIRA, EMBORA INVENTADA: A CARTOGRAFIA COMO MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO
Juliana Prochnow dos Anjos
AU-DELÀ DU PRINCIPE DE NEUTRALISATION ET D’ENGAGEMENT DE L’OBSERVATEUR : LA FUSION DES HORIZONS OBJECTIVITÉ ET SUBJECTIVITÉ DANS L’EXPÉRIENCE DE RECHERCHE ANTHROPOLOGIQUE
Gilles Raveneau
FAIRE AVEC LE DOUTE DANS L’ACTIVITÉ DE RECHERCHE : MODALITÉ DE CONFRONTATION AU MONDE ET ACCOMPAGNEMENT CLINIQUE
Françoise Hatchuel
O PROJETO METODOLÓGICO COMO NORMA E O PROCESSO DE PESQUISA COMO RENORMALIZAÇÃO: CAMINHOS E “NÃO CAMINHOS” NA ATIVIDADE DO PESQUISADOR
Fábio Carlos de Mattos da Fonseca
ENTRE ANTHROPOLOGIE ET SCIENCES DE L'ÉDUCATION : LA NOTION DE RITE DE PASSAGE AU SERVICE D'UN DISPOSITIF DE FORMATION D'ENSEIGNANTTES
Maryline Nogueira-Fasse
L’ÉNIGMATIQUE DANS L’ACTIVITÉ DU CHERCHEUR: RELATION OBJECTIVITÉ/SUBJECTIVITÉ
Maria José Acevedo
PESQUISA EM PRESÍDIOS: COMO DAR VOZ A MULHERES NO CÁRCERE
Maria Cristina da Silva