Histórico

No ano 2000 uma parceria entre a Escola Sindical 7 de Outubro e um grupo de professores do Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação/NETE, da Faculdade de Educação/FaE/UFMG se estabeleceu e deu inicio ao trabalho de uma equipe que se organizou em torno de ações de ensino, pesquisa e extensão. Elas se voltaram para o atendimento de uma demanda oriunda de segmentos variados de trabalhadores que chegava cada vez mais clara e insistente: compreender as complexas transformações do mundo do trabalho e da educação, de modo a alimentar propostas de intervenção. A partir daí, não foi difícil identificar novos parceiros, solidários no mesmo interesse. O Departamento de Ergologia da Universidade de Provence, em Aix-en-Provence, na França e o Departamento de Engenharia de Produção da UFMG se juntaram ao grupo inicial. Pesquisas, disciplinas, oficinas, reuniões variadas passaram a se realizar coletivamente e envolveram professores e alunos de pós-graduação da FaE e da Engenharia de Produção, além de educadores da Escola Sindical.

Já na década de 1980, uma constelação de problemas comuns aproximara educadores/as e trabalhadores/as, sindicalistas e universitários em torno do tema dos saberes no trabalho e do mesmo desafio: construir novas propostas educacionais que supunham o reconhecimento e o diálogo entre saberes de natureza diferente, além da devida legitimação de cada um deles. A parceria iniciada em 2000 entre o NETE/FaE, a Escola Sindical, o Departamento de Engenharia de Produção e o Departamento de Ergologia retomou esse desafio e se propôs enfrentá-lo. A este desafio se somou a bandeira da inclusão dos segmentos sociais que vinham sendo preteridos no ensino superior brasileiro, principalmente na universidade pública, que deveria se comprometer sobremaneira com a democratização do acesso e permanência deste contingente.

O 1º Seminário Internacional Trabalho e Educação: processos de produção e legitimação de saberes - 1º SITE - realizado em 2003 foi o resultado do trabalho coletivo dessa equipe. O evento objetivou discutir a formação de trabalhadores/as e pesquisadores/as em diversos campos do conhecimento. Para tal, elegeu como problema central o estatuto epistemológico, político, cultural e subjetivo dos saberes produzidos e mobilizados pelos trabalhadores em situações de trabalho, bem como, os processos de construção e legitimação desses saberes.

A realização do seminário ensejou o convite à participação do Centro de Pesquisas Savoirs et rapport au savoir, da Universidade de Paris X, França, por intermédio dos professores Jacky Beillerot, Nicole Mosconi e Françoise Hatchuel. A partir de então, esta última integra aquela equipe original.

O 1º SITE privilegiou a socialização da produção de conhecimento em torno dos processos de produção e legitimação dos saberes enfatizando seu estatuto epistemológico, político, cultural e subjetivo. Isto se deu em diferentes óticas, tais como o gênero, a raça/etnia, o fenômeno geracional, o trabalho formal e informal, a cultura, diferentes níveis de ensino, por meio de experiências e pesquisas relatadas por representantes de múltiplas instituições e grupos sociais. O evento se organizou em torno de três eixos: produção de saber em situações de trabalho, processos de legitimação de saberes e relação do sujeito com o saber.

Desse primeiro seminário resultou a publicação, em 2003, do dossiê “Processos de produção e legitimação de saberes”, volume 12, na Revista Trabalho e Educação do NETE.

Após o evento, a equipe deu continuidade às pesquisas e discussões em torno do tema. Várias dissertações e teses foram defendidas no Programa de Pós-graduação da FaE e da Engenharia de Produção, bem como no Departamento de Ergologia e na Universidade de Paris X.

No interior da discussão realizada pela equipe, buscou-se aprofundar o conhecimento acerca da relação do sujeito com o saber, inicialmente incorporando as contribuições de Bernard Charlot. Um grupo deu atenção especial à interface com os estudos da psicanálise e estreitou as relações com a professora Françoise Hatchuel. Formado pela professora Eloisa Helena Santos e suas então doutorandas Margareth Diniz, Lucia Helena Garcia Bernardes e Shirley Aparecida Miranda, este grupo iniciou um ciclo de seminários e mesas redondas intituladas “Diálogos erráticos”. Os “diálogos” buscaram problematizar as diferenças semânticas e epistemológicas acerca das diversas acepções dos termos sujeito e saber e suas implicações, bem como da relação do sujeito com o saber.

A necessidade de trabalhar a noção de relação com o saber e suas implicações no processo de produção e legitimação de saberes, demanda recorrente nas discussões em torno dos saberes nas situações de trabalho, levou este grupo a aprofundar o diálogo com referenciais teóricos diferentes, com destaque para a psicanálise. O grupo passou a investigar o que denominou “clínica da relação com o saber”, realizando discussões de casos que envolviam a relação do sujeito com o saber na perspectiva clínica. Além deste grupo interessado na dimensão clínica, a equipe inicial manteve a interlocução com as produções dos/as antigos orientandos/as da professora Eloísa em torno dos saberes no/do trabalho, destacando-se as pesquisas de mestrado de Paulo Henrique Queiroz Nogueira, Mariana Veríssimo, Deise de Souza Dias, Luiz Henrique Vieira, Kátia Rochael e Geraldo Márcio dos Santos. Além destas, as dissertações de Camélia Vaz Penna e Luciana Ferreira Tavares Ramos, orientadas pela professora no Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, do Centro Universitário UNA, a partir de 2008, se debruçaram sobre a relação do sujeito com o saber.

Paralelamente, as atividades coletivas centradas em torno da abordagem ergológica prosseguiram, de tal forma que ergologia e psicanálise passaram a dialogar para responder às questões em pauta quando se trata de focalizar os sujeitos e os saberes nas situações de trabalho.

Desde 2003 mantendo interlocução permanente com a professora Françoise Hatchuel, em 2010, 2011 e 2012 foram realizadas reuniões buscando construir a proposta do segundo seminário internacional. Previsto para ser realizado em 2014, o evento se voltará para a atividade do pesquisador/a, focalizando a dimensão enigmática presente nesta atividade, tema transversal ao trabalho da equipe toda. O grupo que se dedicou mais especialmente ao estudo e à experiência da “clínica da relação como saber” está hoje inserido em instituições de ensino superior e programas de pós-graduação como pesquisadoras/es: Shirley Miranda na UFMG, Margareth Diniz na UFOP, Lúcia Bernardes na UNIFENAS, José Eustáquio Brito na UEMG e Mariana Veríssimo na PUCMinas. É ele o propositor do evento em tela. A experiência de cada um/a como pesquisador/a e como formador/a de novo/as pesquisadores/as, que sempre foi objeto de reflexão do grupo, bem como a demanda advinda da relação estabelecida com outros pesquisadores, foi o mote para a organização do segundo seminário “O enigmático na atividade do pesquisador: relação objetividade e subjetividade”.