Apresentação

O 2º Seminário Internacional Trabalho e Educação denominado “O enigmático na atividade do pesquisador: relação objetividade e subjetividade” buscará problematizar o processo de pesquisa, seus obstáculos e desafios, partindo do postulado de que, para todo sujeito pesquisador, o objeto da pesquisa não é neutro e se inscreve em um percurso pessoal específico. Como compreender a evidência de que a pulsão de saber nos anima de forma tão intensa num processo de pesquisa? Pensamos que o saber e sua produção são ferramentas que contribuem para a organização do mundo e, portanto, que nossa atividade de pesquisa e a forma como a realizamos se conectam com as modalidades de confrontação com o desconhecido adquiridas precocemente, e de filiação ao que, para cada sujeito, torna essa confrontação possível. Essa indagação se inscreve na problemática da transmissão: como praticamos o que nos foi transmitido, formalmente ou não, em termos de descoberta do mundo? Como nos reconhecemos, encontramos uma saída ou, ao contrário, nos inibimos? Quem são nossos interlocutores ocultos, conhecidos ou desconhecidos, quando realizamos uma pesquisa? Como escolhemos e aplicamos uma metodologia e os seus procedimentos? De que maneira eles são coerentes com o que queremos? Como escrevemos? Como citamos? Quais são nossos momentos de bloqueio? O que compreendemos sobre a forma como os nossos temas de pesquisa nos tocam pessoalmente e como percebemos o fato de que esta relação facilita ou, ao contrário, dificulta nosso trabalho? Ou ainda, como nossos bloqueios esclarecem nossas questões implícitas?

Ao nos interessarmos pela maneira de confrontar o desconhecido no processo de pesquisa, parece-nos preferível fazê-lo a respeito de um conteúdo que seja familiar, ou seja, a partir da questão do « embaraço » na pesquisa: o que nos acontece, psíquica e concretamente, quando nossas ferramentas de pesquisa se mostram inadequadas à situação, ao material coletado, ou a nós mesmo (a)s? Por que não sabemos o que fazer mesmo quando todos os recursos teóricos e metodológicos parecem estar disponíveis?

Ao lançar luz sobre o processo de produção do conhecimento refletiremos sobre como nossas diferentes abordagens, metodologias e procedimentos, além da validade científica própria a cada epistemologia, comportam « pontos cegos » provenientes da maneira como nos relacionamos com o mundo e com o saber.

A temática do 2º Seminário Internacional retoma, portanto, aquela problematizada no primeiro. No entanto, ela se volta prioritariamente para a atividade do pesquisador e seus desdobramentos nos processos de intervenção. A atividade do pesquisador é entendida como espaço onde o sujeito desenvolve uma verdadeira dramática dos usos de si, marcada por um debate, no hunc et nunc, entre normas antecedentes, valores e saberes – conscientes e inconscientes, que resulta em renormalizações, em maneiras de fazer, maneiras de viver as contradições, as angustias, as restrições, os recursos do presente, singularmente. A atividade do pesquisador, como toda atividade de trabalho, é sempre tentativa de reinventar o que nela não pode ser antecipado, não pode ser antecipável. Reinvenção singular que se confronta, no coletivo, com outras produções singulares, multiplicando, como num caleidoscópio, as diversas possibilidades de arranjos, de encontros e desencontros.

Além da temática, que mantém o ponto de articulação com o primeiro seminário, retoma-se, nesta segunda edição, a metodologia de trabalho utilizada, na perspectiva de tomar a produção do conhecimento científico como matéria estrangeira. Além de tomar a atividade do pesquisador como objeto de estudo, o que se quer é interpelá-la como matéria estrangeira, que não se mostra senão a partir de uma tomada de posição do pesquisador em relação à sua própria atividade de pesquisa. O segundo seminário buscará lançar luz sobre o que há de enigmático na atividade do pesquisador que relaciona o sujeito e o objeto de pesquisa. e, consequentemente, na relação entre múltiplos sujeitos e objetos de pesquisa.



Objetivos

Socializar reflexões sobre a problemática que envolve o processo de produção do conhecimento científico, desde a formulação do problema e escolha do objeto, os resultados alcançados, até a escrita do trabalho final. Interessa-nos discutir os percalços e acertos contidos na relação do/a pesquisador/a com os objetos e os sujeitos da pesquisa, bem como a relação do orientador/a com o/a orientando/a,

Ao discutir o processo de produção do conhecimento científico nas ciências humanas e sociais buscaremos proporcionar o debate entre pesquisadores/as, docentes e estudantes dos vários grupos de pesquisa envolvidos. Ao mesmo tempo, buscaremos estabelecer vínculos acadêmicos entre diferentes instituições que visem à organização de redes de intercâmbio e ao desenvolvimento de projetos integrados que se interessem pela epistemologia da pesquisa.


Público alvo e expectativa de participantes

Pesquisadores/as das áreas da Educação, Ciências Humanas e Sociais, interessados na análise do processo de produção do conhecimento e, consequentemente, da relação do sujeito pesquisador com o saber.